O risco invisível: quando acreditar estar em conformidade com a LGPD é o maior perigo
Por Cristiano Silverio, CEO da LGPD2U
Nos últimos anos, milhares de empresas brasileiras anunciaram que “já fizeram a adequação à LGPD”. Muitas exibem políticas no site, ajustaram contratos e nomearam um DPO. No papel, tudo parece resolvido. Mas os números mostram outra realidade: a de organizações que acreditam estar em conformidade, mas ainda operam em alto risco.
A ilusão do controle
O Panorama de Dados 2025 da HubSpot revelou que:
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90% dos profissionais dizem ter visibilidade moderada ou alta sobre os dados de suas empresas.
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Mas 81% ainda recorrem a planilhas e grupos de WhatsApp para gerenciar informações de clientes.
Ou seja: a confiança existe, mas não se traduz em prática. O dado oficial passa a sensação de controle, mas as equipes criam sistemas paralelos que ficam fora da governança. E quando isso acontece, a empresa perde a trilha de onde os dados realmente estão.
O mesmo estudo mostrou que 80% das empresas usam até 5 ferramentas diferentes para lidar com dados de clientes. Resultado: sete em cada dez times gastam até 5 horas por semana apenas limpando e transferindo dados entre sistemas.
Essas horas não aparecem no balanço, mas custam caro em produtividade, oportunidades perdidas e risco de não conformidade.
O falso senso de segurança
A pesquisa Privacidade e Proteção de Dados 2023 (Cetic/NIC.br) reforça esse alerta:
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Só 32% das empresas têm plano formal de conformidade com a LGPD.
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Apenas 25% possuem políticas de retenção e descarte de dados.
Ou seja, a maioria não tem processos básicos de governança, mesmo acreditando estar adequada.
No Cisco Privacy Benchmark 2025, outro dado curioso: 90% dos executivos acreditam que manter dados localmente é mais seguro, mas 91% confiam mais em provedores globais para protegê-los. Esse paradoxo mostra como muitas decisões são guiadas por percepções, não por práticas consistentes de gestão de riscos.
Já a Pesquisa de TI da FGV 2024 lembra que 72% das empresas ainda usam planilhas eletrônicas no dia a dia corporativo. Isso explica por que os “sistemas paralelos” continuam proliferando, mesmo em organizações que se consideram digitalmente maduras.
O risco invisível: quando o problema está justamente em achar que não há problema
A pior situação não é estar em desconformidade e saber disso. É acreditar que o risco foi eliminado, quando na verdade ele continua ativo — apenas mascarado.
Essa é a armadilha em que muitas empresas brasileiras estão hoje: relatórios internos mostram conformidade, mas na prática os dados seguem fragmentados, mal governados e expostos.
Como sair desse ciclo
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Mapeamento contínuo: não basta mapear processos uma vez. É preciso rastrear planilhas, integrações e ferramentas paralelas usadas pelas equipes.
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Governança centralizada: políticas e relatórios têm que ser auditáveis e visíveis, não só para jurídico e TI, mas para toda a liderança.
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Cultura de privacidade: treinar times não é evento pontual. É preciso criar disciplina organizacional que desencoraje “atalhos fora do sistema”.
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Monitoramento ativo: a LGPD não é projeto com fim, mas um programa vivo, que evolui junto com o negócio e seus riscos.
Na LGPD2U, nossa visão é clara: privacidade é vantagem competitiva. Empresas que tratam o tema com seriedade não apenas evitam multas; elas ganham confiança, fecham contratos e se diferenciam no mercado.
A reflexão que deixo para os líderes é simples: sua empresa está realmente em conformidade ou apenas acredita estar?
