Um dos assuntos mais comentados pelos fãs de tecnologia em janeiro dizia respeito aos novos termos de serviço e política de privacidade anunciados pelo WhatsApp que, a princípio, entrariam em vigor no dia 8 de fevereiro, passando para o dia 15 de maio. Em última instância, a nova política obriga o usuário do aplicativo a compartilhar seus dados com as empresas do Facebook, sob o risco de ter a conta no aplicativo de mensagens suspensa em caso de recusa.
Na prática, isso significa que as empresas ligadas ao Facebook terão acesso a informações como número de telefone do usuário do WhatsApp, endereço de IP, status, tempo em que ele permanece online, entre outros. A novidade, é claro, acabou desagradando algumas pessoas que se sentiram, em alguma medida, invadidas. Muitas, planejam migrar para concorrentes como o Telegram.
A discussão sobre a invasão ou não da privacidade leva em consideração a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que obrigada que as empresas solicitem dos seus clientes uma autorização para a utilização de seus dados. Cristiano Silverio, diretor de Operações da LGPD2U, explica que a discussão gira em torno de se a empresa deixa de atender a LGPD ou se é uma questão de direito do consumidor.
Para ele, particularmente, parece ser o segundo caso já que a plataforma deixa claro ao usuário a consequência de não concordar com os novos termos de uso. “Entretanto, esse é um ataque claro à privacidade, já que para utilizar o serviço é necessário que o usuário compartilhe os dados com as demais plataformas. Daí, a importância de pensar no uso de outros aplicativos que substituam o WhatsApp”, ressalta.
O que diz o WhatsApp?
Na sua página na internet, a empresa afirmou que não mede esforços para ajudar as pessoas a se comunicarem com privacidade por meio do aplicativo e que a nova política de privacidade não afeta, de forma alguma, a privacidade das mensagens trocadas entre os usuários, mas que as mudanças são relacionadas aos recursos comerciais e opcionais da plataforma.
A empresa diz que quer melhorar a experiência para as mais de 175 milhões de pessoas que utilizam o aplicativo e que as atualizações trarão uma nova experiência de atendimento ao cliente, de descoberta de novas empresas e de experiência de compras.
Política do WhatsApp
Uma consulta rápida à política de privacidade do aplicativo revela que os dados da conta como número do telefone, nome, foto do perfil, podem estar disponíveis para qualquer um que utilize o serviço da empresa. Mas alerta que é possível configurar os serviços para definir se alguns dados devem ficar disponíveis para outros usuários.
Podem ser compartilhados também com prestadores de serviços terceirizados que ajudam a operar os serviços da plataforma. Segundo o próprio WhatsApp, quando isso acontece é exigido que os dados sejam utilizados de acordo com as instruções da plataforma e termos ou mediante consentimento expresso do usuário.
Por fim, os dados podem ser compartilhados com serviços de terceiros que são integrados aos serviços da plataforma. É o que pode acontecer, por exemplo, ao utilizar serviço de backup de dados integrado como o iCloud ou o Google Drive, que têm suas próprias políticas de privacidade.
E o Telegram?
Na sua Política de Privacidade, o Telegram afirma que tem dois princípios fundamentais quando se trata de coletar e processar dados privados: não os usam para mostrar anúncio e que apenas armazena os dados que o aplicativo precisa para funcionar como um serviço de mensagens seguro e rico em recursos.
Segundo a plataforma, certas informações de dados podem ser compartilhadas com outros usuários do serviço Telegram, com empresas que fazem parte do grupo (Telegram Group Inc e Telegram FZ-LLC), como forma de ajudar a fornecer, melhorar e apoiar os serviços oferecidos; e, com autoridades policiais: caso o Telegram receba uma ordem judicial que confirme que o usuário é suspeito de terrorismo, poderá divulgar o endereço IP e telefone para as autoridades competentes. Algo que não aconteceu até o momento.
Cenas dos Próximos Capítulos
Após a perda em massa de assinantes, o WhatsApp resolveu adiar a entrada em vigor das alterações de privacidade, além de lançar uma campanha explicando o “mal entendido”. Não faz muito sentido adiar a entrada da política por alguns meses, caso a companhia não esteja revendo os termos e compromissos que assumirá em relação aos dados de seus usuários.
É certo que a debandada em massa dos usuários acendeu o alerta na cabeça dos executivos. Por outro lado, como a empresa justificará um modelo de negócios sem o compartilhamento de dados? Esse equilíbrio deve ser buscado dentro do WhatsApp nos próximos meses.
Nós estamos muito interessados no desfecho dessa saga. E você, como acha que o WhatsApp pesará a privacidade versus seu modelo de negócios?